segunda-feira, 13 de abril de 2015

Desbiografia

Cap. 1 Futuro passado

Antes  de o futuro amanhecer ontem meu pai prometeu à Elisa, esta, deitada num todo branco enquanto sua vida era devorada por um monstro invisível:
- Asseguro que quando chegar o sujeito inevitável que embranquecera o cabelo e desesperadoramente tentara arrancar-te da minha já vazia memória, ele não conseguira. Pois minha pequena leoa trará o seu nome ao rugir e nessa hora sempre me lembrarei de você.
Elisa foi devorada por inteiro, sua alma pelos vivos e seu corpo pelos vermes.
Meu pai mudou-se, e em meio a toda mudança pediu para ficar alguns dias no apartamento de uma amiga.

Cap. 2 A vida fora da casca

Ás vésperas do dia 10 de agosto de 1994, o futuro amanheceu de noite, num inverno rigoroso um mês antes do que se era esperado.
Rugidos saiam do corpo esticado da minha mãe, dentre patadas e arranhões o amanhecer veio, trazendo com ele o esperado desconhecido: uma leoazinha  pequena, enrugada e infinitamente frágil.
Meu pai segurou aquele bichinho com toda a delicadeza que nunca teve, aspirou cada textura, cada forma, cada cor, cada pedacinho que pode.

Cap. 3 Faço agora uma série de desventuras dos futuros passados por onde me aventurei.

1. Ao completar um ano, perdida dentro de uma casa de gigantes me escondi em baixo da mesa e lambi todos os papéis de brigadeiro que os gigantes da casa me impediram de comer.
2. Em uma viagem de carro com a minha mãe, fiquei enjoada e com vontade de vomitar.  Eu não queria sujar o carro. Achei sábio tapar a boca e desta forma o vomito não teria por onde sair. Erro meu, ele saiu com vontade pelo nariz. Acontecimento desagradável que minha mãe achou engraçado.
3. Quando criança, tinha um livro de contos de fadas que era maior do que eu. Em determinado dia o livro encolheu e fiquei bastante triste. O livro chorou junto de mim pois eu não queria crescer.

Cap 4. Considerações finais, sepultamento de esperanças e reflexões dos passados pesados:

Desculpas não tiram a culpa de ninguém.
Cheiro de almíscar sempre vai sorrir dentro de mim.
Beijei as covas de realidade e massageei (com creme de arnica) a dureza do tempo. Ele não amoleceu.
Você me pediu perdão e eu não respondi.
Eu sou uma criança assustada querendo colo de pai.
Não sei mais o cheiro de cigarro e whisky do meu avó, mas sei desenhar cada traço de saudade que me toca.
Tenho preguiça do meio.
Tenho preguiça do morno.
E com toda vontade, invejo as pedras e sua indiferença ao abandono. Dor de pedra dói menos.

Cap.5 Conclusão
Desconsidere os 4 capítulos acima, pois de nada valem.
Eu não sei habitar as palavras que toco.








Nenhum comentário:

Postar um comentário